sábado, 8 de outubro de 2011

100% Natural

Até o início do século XXI, o famoso jingle “dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles no pão com gergelim” não saía da cabeça e do estômago dos brasileiros. Na época, a preferência nacional era por cardápios repletos de lanches gordurosos, recheados por camadas e mais camadas de bacon, queijo, maionese e, de quebra, muitas calorias. E, para beber, quase sempre um copo de refrigerante. Esse era o hábito alimentar de boa parte dos brasileiros. Mas o tempo passou, o consumidor engordou e o consciente coletivo parece que ficou cada vez mais pesado... Resultado: o fast food praticamente saiu de cena para a estreia de uma alimentação mais saudável, rica em fibras e cereais. Com isso, o mercado de alimentos funcionais, naturais e orgânicos cresceu mais de 80% em cinco anos no Brasil. Dados do Instituto Euromonitor mostram que o segmento nacional registrou um faturamento de US$ 15,5 bilhões em 2009, contra os US$ 8,5 bilhões faturados em 2004. Diante desse cenário promissor, novas empresas surgiram de olho em um público cada vez mais preocupado em manter práticas saudáveis de alimentação.
A prova da consolidação desse nicho de mercado é a Bio Brazil Fair – feira que chegou a sua sétima edição neste ano, reunindo as principais empresas de produtos orgânicos do país, de 21 a 24 de julho, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo. Cerca de 200 empresas estiveram presentes no evento com um único objetivo: mostrar suas novidades neste segmento que não para de crescer. “A feira deste ano, por exemplo, cresceu 11% em relação à edição do ano passado”, afirma Abdala Jamil Abdala, presidente da Francal Feiras, promotora da Bio Brazil Fair.
Em comum, as empresas de alimentos orgânicos utilizam a informação como principal pilar de suas estratégias de marketing para conquistar novos consumidores. O diretor de marketing da Mundo Verde, Donato Ramos, conta que o primeiro passo para alavancar a venda dos produtos foi a reformulação do site da empresa. “Com essa mudança, foi possível incluir mais dados sobre os benefícios dos produtos orgânicos para a saúde. Também investimos nas redes sociais, como o Twitter e o Facebook.”
A Mundo Verde, empresa que marcou presença na Bio Brazil Fair deste ano, recebe diariamente cerca de 150 mil clientes em busca de pelo menos um dos 10 mil itens oferecidos. Outra estratégia para aumentar as vendas foi o treinamento dos funcionários – ação aparentemente simples, mas altamente rentável. “O consumidor conhece a linhaça, por exemplo, mas nem sempre sabe dos benefícios exatos do produto. A partir daí, começamos a treinar os nossos funcionários, que têm total competência para explicar o uso de cada produto para o nosso consumidor”, explica Ramos.
Só no Brasil, a Mundo Verde tem 196 lojas. Recentemente, a empresa investiu 40 mil euros na inauguração de uma unidade na cidade do Porto – a segunda da marca em Portugal. E a expectativa é de que mais cinco lojas entrem em operação até dezembro de 2012. “Nossa meta é em 2019 ter, no mínimo, 12 lojas da marca”, adianta o executivo, que alimenta grandes expectativas em relação ao segmento. “Em 2015, vamos ter um mercado de orgânico bem maior. Esse segmento vai crescer de 50% a 60% até lá”, garante.
Assim como a Mundo Verde, a Via Pax Bio produz uma linha de produtos alimentícios orgânicos, industrializados por processos que preservam as qualidades originais e nutricionais das matérias-primas. Mas a empresa utiliza a internet como o principal meio de comunicação para atrair novos públicos. No site, a Via Pax Bio disponibiliza uma série de receitas que o consumidor pode preparar usando os produtos orgânicos, como o açúcar mascavo que é obtido diretamente do caldo da cana-de-açúcar orgânica. “Nosso foco é produzir alimentos ­– cultivados sem agrotóxicos ou fertilizantes – que atendam as três refeições diárias de uma pessoa”, afirma Maurício Celso Ferreira Júnior, gerente-geral da empresa. A Via Pax Bio produz, além do açúcar mascavo, o óleo de girassol, arroz branco, achocolatados, geleia e, até mesmo, néctar para diversos sabores de suco, que são produzidos da própria fruta – orgânica, claro – e adoçado com açúcar cristal.
Embora considere esse mercado ainda em estágio embrionário no Brasil, Ferreira Júnior afirma que a empresa registrou um crescimento em torno de 300% entre os anos de 2007 e 2011. “O consumidor vem ganhando cada vez mais consciência da importância de ingerir produtos orgânicos. A oferta de bons produtos que temos hoje no mercado e a consciência das pessoas vão fazer com que esse segmento cresça ainda mais nos próximos anos.” Com sede em Joinville (SC), a Via Pax Bio distribui seus produtos para todo Brasil. “A região Sudeste, no entanto, é a que concentra o maior volume de venda, com destaque para as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro”, afirma Ferreira Júnior.


Prateleiras sustentáveis
O Grupo Pão de Açúcar foi a primeira empresa de varejo a reconhecer o potencial deste mercado, há mais de 15 anos, quando iniciou um trabalho de parceria junto a seus fornecedores. Essa ação contribuiu com o sortimento de produtos e do consumo. Com o crescimento da oferta nos últimos anos, hoje, os adeptos de alimentos orgânicos já conseguem compor uma refeição completa seja no café da manhã, almoço, lanche da tarde ou jantar. Somente no Pão de Açúcar, o consumidor encontra um portfólio de 600 itens orgânicos, entre frutas, verduras, legumes, mercearia, rotisserie, congelados, carnes, aves, frios e laticínios. Atualmente, a rede é responsável por 75% das vendas de orgânicos do grupo, sendo que mais de 65% de todo volume de frutas, verduras e legumes orgânicos vendidos pela empresa saem das lojas paulistas.